domingo, 12 de outubro de 2008

Memórias

"(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória".
(Resíduo - Carlos Drummond de Andrade)

Quem nunca quis, um dia, apagar da memória um momento, um olhar, um dia inteiro? Ou talvez apertar o “pare” e curtir um pouco mais aquele instante ou aquela pessoa, estender um pouco mais uma memória tão gostosa? Mas não podemos. Talvez seja isso que aumente a dor quando perdemos alguém, saber que, por mais que tentamos, não viveremos nada daquilo outra vez e não conseguiremos fazer aqueles momentos tão especiais e importantes durarem a vida toda.

Lembranças são as melhores e as piores coisas que guardamos conosco, mas por mais tristes que sejam, devem continuar fazendo parte de nós, pois são elas que fazem de nós tudo que somos hoje. E isso não pode ser apagado.

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